O Grande Ditador

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O último discurso de Adenoid Hynkel/Barbeiro Judeu (Charles Chaplin) em "O Grande Ditador" (Filme de Charles Chaplin produzido nos EUA em 1940).

[MILITAR] - Você tem que falar!
[ADENOID HYNKEL/BARBEIRO] - Eu não posso.

[MILITAR] - É a nossa única esperança!
[ADENOID HYNKEL/BARBEIRO] - Esperança...

Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar, se possível, judeus, os gentios, negros, brancos.

Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Desejamos viver para a felicidade do próximo, não para seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades.

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens, levantou no mundo as muralhas do ódio, e tem-nos feito marchar a passo de ganso. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais que de inteligência, de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.

A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A natureza dessas coisas é um apelo à bondade do homem, um apelo à fraternidade universal. Neste mesmo instante, minha voz chega a milhares de pessoas, milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas, vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós é o produto da cobiça em agonia, da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram retornará ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca permanecerá.

Soldados! Não vos entregueis a esses brutais que vos desprezam, que vos escravizam, que ditam os vossos atos, vossas idéias, vossos sentimentos! Que vos tratam como gado humano, e vos utilizam como bucha de canhão. Não vos entregueis a esses desnaturados. Esses homens com mentes e almas de máquina! Não sois máquinas! Homens é que sois! E com o amos da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar.

Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutais pela liberdade! Em São Lucas está escrito: "O Reino de Deus está dentro do homem." Não de um só homem ou de um grupo de homens, mas dos homens todos! Vós, o povo, tendes o poder, o poder de criar máquinas, de criar felicidade! Tendes o poder de tornar esta vida livre e bela, de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto, em nome da democracia, usemos desse poder, unamo-nos todos nos. Lutemos por um mundo novo, um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.

É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos todos para cumprir estas promessas. Lutemos para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, da fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados! Em nome da democracia, unamo-nos!

Hannah... estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo, um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança, para o futuro, o futuro glorioso que te pertence, que pertence a mim, a todos nós! Ergue os olhos Hannah!

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