Imunidade ideológica ou o Problema de Planck

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Na vida diária como na ciência resistimos às mudanças de conceitos básicos. O cientista social Jay Stuart Snelson chama a esta resistência "sistema imunológico ideológico". "Adultos educados, inteligentes e bem-sucedidos raramente mudam seus pressupostos mais básicos". De acordo com Snelson, quanto mais conhecimento os indivíduos acumulam e quanto mais bem fundadas suas teorias se tornaram (lembrem-se, tendemos a procurar por confirmações, não provas em contrário; e são estas que nós lembramos), maior a confiança em suas idéias. A consequência disto, entretanto, é que desenvolvemos uma "imunidade" contra idéias novas que não confirmam as antigas. Os historiadores da ciência chamam a isto "o problema de Planck", devido ao físico Max Planck, que fez este comentário sobre o que deve ocorrer para que a ciência sofra inovações: "uma inovação científica importante raramente se estabelece por meio do convencimento gradual de seus oponentes. Raramente Saulo se torna Paulo. O que acontece é que os opositores vão aos poucos morrendo e a nova geração já cresce acostumada com a idéia" (1936). O psicólogo David Perkins realizou um estudo em que ele achou fortes evidências de que há uma relação entre a inteligência (medida por testes de QI padrões) e a tendência a se adotar um ponto de vista e defendê-lo. Também encontrou uma forte correlação negativa entre a inteligência e a capacidade de se considerar outras alternativas. Ou seja, quanto mais alto o QI, maior o potencial de imunidade ideológica. A imunidade ideológica está incorporada ao edifício da ciência e funciona como um filtro contra novidades potencialmente avassaladoras. O historiador da ciência I. B. Cohen comentou: "Sistemas científicos novos e revolucionários tendem mais a sofrer resistência do que ser recebidos de braços abertos porque cada cientista bem-sucedido oculta interesses intelectuais, sociais e financeiros em manter o status quo. Se todas as idéias revolucionárias fossem recebidas de braços abertos, haveria o caos completo" (1985). A verdade é que a história recompensa aqueles que estão "certos" (ainda que provisoriamente). Mas as mudanças acontecem. Na astronomia, o geocentrismo de Ptolomeu foi substituído pelo heliocentrismo de Copérnico. Na geologia, o catastrofismo de George Cuvier foi gradualmente expulso pelo uniformitarianismo, mais bem fundado, de James Hutton e Charles Lyell. Na biologia, o evolucionismo de Darwin se sobrepôs à crença criacionista na imutabilidade das espécies. A teoria do deslocamento continental de Alfred Wegener levou quase meio século para superar o dogma dos continentes fixos e estáveis. A imunidade ideológica na ciência pode ser vencida mas requer tempo e evidências.

Michael Shermer

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