Couro de Boi

domingo, 21 de julho de 2013

Conheço um velho ditado, que é do tempo dos agáis.
Diz que um pai trata dez filhos, mas dez filhos não trata de um pai.
Sentindo o peso dos anos sem poder mais trabalhar,
o velho, peão estradeiro, com seu filho foi morar.
O rapaz era casado e a mulher deu de implicar.
"Você manda o velho embora, se não quiser que eu vá".
E o rapaz, de coração duro, com o velhinho foi falar:
Para o senhor se mudar, meu pai eu vim lhe pedir
Hoje aqui da minha casa o senhor tem que sair
Leve este couro de boi que eu acabei de curtir
Pra lhe servir de coberta aonde o senhor dormir
O pobre velho, calado, pegou o couro e saiu
Seu neto de oito anos que aquela cena assistiu
Correu atrás do avô, seu paletó sacudiu
Metade daquele couro, chorando ele pediu
O velhinho, comovido, pra não ver o neto chorando
Partiu o couro no meio e pro netinho foi dando
O menino chegou em casa, seu pai foi lhe perguntando.
Pra quê você quer este couro que seu avô ia levando
Disse o menino ao pai: um dia vou me casar
O senhor vai ficar velho e comigo vem morar
Pode ser que aconteça de nós não se combinar
Essa metade do couro vou dar pro senhor levar

Mensagem a Garcia

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Questões relacionadas à comunicação são as causas de boa parte dos problemas na execução de projetos, e quase todo mundo pode se beneficiar por ser eventualmente lembrado sobre como pode dar sua contribuição para a melhoria das comunicações dentro da equipe, ou entre a equipe e os clientes e parceiros [EFETIVIDADE].

Segue abaixo o texto "Mensagem a Garcia", que ilustra o comportamente de uma pessoa pró-ativa:

Em todo este caso cubano, um homem se destaca no horizonte de minha memória. Quando irrompeu a guerra entre a Espanha e os Estados Unidos, o que importava aos americanos era comunicar-se, rapidamente, com o chefe dos revoltosos – chamado Garcia - que se encontrava em uma fortaleza desconhecida, no interior do sertão cubano. Era impossível um entendimento com ele pelo correio ou pelo telégrafo. No entanto, o Presidente precisava de sua colaboração, e isso o quanto antes. Que fazer? Alguém lembrou: "Há um homem chamado Rowan... e se alguma pessoa é capaz de encontrar Garcia, esta pessoa é Rowan".

Rowan foi trazido à presença do Presidente, que lhe confiou uma carta com a incumbência de entregá-la a Garcia. Não vêm ao caso narrar aqui como esse homem tomou a carta, guardou-a num invólucro impermeável, amarrou-a ao peito e, após quatro dias, saltou de um pequeno barco, alta noite, nas costas de Cuba; ou como se embrenhou no sertão para, depois de três semanas, surgir do outro lado da ilha, tendo atravessado a pé um país hostil, e entregue a carta a Garcia. O ponto que desejo frisar é este: Mac Kinley deu a Rowan uma carta destinada a Garcia; Rowan tomou-a e nem sequer perguntou: "Onde é que ele está?".

Eis aí um homem cujo busto merecia ser fundido em bronze e sua estátua colocada em cada escola. Não é só de sabedoria que a juventude precisa... Nem de instruções sobre isto ou aquilo. Precisa, sim, de um endurecimento das vértebras para poder mostrar-se altiva no exercício de um cargo; para atuar com diligência; para dar conta do recado; para, em suma, levar uma mensagem a Garcia. O General Garcia já não é deste mundo, mas há outros Garcias. A nenhum homem que se tenha empenhado em levar adiante uma tarefa em que a ajuda de muitos se torne precisa tem sido poupados momentos de verdadeiro desespero ante a passividade de grande número de pessoas ante a inabilidade ou falta de disposição de concentrar a mente numa determinada tarefa... e fazê-la. A regra geral é: assistência regular, desatenção tola, indiferença irritante e trabalho malfeito.

Ninguém pode ser verdadeiramente bem-sucedido, exceto se lançar mão de todos os meios ao seu alcance, para obrigar outras pessoas a ajudá-lo, a não ser que Deus Onipotente, na sua grande misericórdia, faça um milagre enviando-lhe, como auxiliar, um anjo de luz. Leitor amigo, tu mesmo podes tirar a prova. Está sentado no teu escritório, rodeado de meia dúzia de empregados. Pois bem, chama um deles e pede-lhe: "Queria ter a bondade de consultar a enciclopédia e de fazer a descrição resumida da vida de Corrégio?". Dar-se-á o caso de o empregado dizer, calmamente: - "Sim, senhor" e executar o que lhe pediste? Nada disso! Olhar-te-á admirado para fazer uma ou algumas das seguintes perguntas:

- Quem é Corrégio?
- Que enciclopédia?
- Onde está a enciclopédia?
- Fui contratado para fazer isso?
- E se Carlos o fizesse?
- Esse sujeito já morreu?
- Precisa disso com urgência?
- Não seria melhor eu trazer o livro para o senhor procurar?
- Para que quer saber isso?

Eu aposto dez contra um que, depois de haveres respondido a tais perguntas e explicado a maneira de procurar os dados pedidos, e a razão por que deles precisas, teu empregado irá pedir a um companheiro que o ajude a encontrar Corrégio e depois voltará para te dizer que tal homem nunca existiu. Evidentemente pode ser que eu perca a aposta, mas, seguindo uma regra geral, jogo na certa. Ora, se fores prudente, não te darás ao trabalho de explicar ao teu "ajudante" que Corrégio se escreve com "C" e não com "K", mas limitar-te-á a dizer calmamente, esboçando o melhor sorriso: - "Não faz mal... não se incomode". É essa dificuldade de atuar independentemente, essa fraqueza de vontade, essa falta de disposição de, solicitamente, se por em campo e agir, é isso o que impede o avanço da humanidade, fazendo-a recuar para um futuro bastante remoto. Se os homens não tomam a iniciativa de agir em seu próprio proveito, que farão se o resultado de seu esforço resultar em benefício de todos? Por enquanto parece que os homens ainda precisam ser dirigidos.

O que mantém muitos empregados no seu posto e o faz trabalhar é o medo de, se não o fizer, ser despedido ou transferido no fim do mês. Anuncia-se precisar de um taquígrafo e nove entre dez candidatos à vaga não saberão ortografar nem pontuar, e - o que é pior - pensa não ser necessário sabê-lo. – "Olhe aquele funcionário" - dizia o chefe de uma grande fábrica. "É um excelente funcionário". Contudo, se eu lhe perguntasse por que seu trabalho é necessário ou por que é feito dessa maneira e não de outra, ele seria incapaz de me responder. Nunca deve ter pensado nisso. Faz apenas aquilo que lhe ensinaram, há mais de 3 anos, e nem um pouco a mais". "Será possível confiar-se a tal homem uma carta para entregá-la a Garcia?".

Conheço um homem de aptidões realmente brilhantes, mas sem a fibra necessária para dirigir um negócio próprio e que ainda se torna completamente nulo para qualquer outra pessoa devido à suspeita que constantemente abriga de que seu patrão o esteja oprimindo ou tencione oprimí-lo. Sem poder mandar, não tolera que alguém o mande. Se lhe fosse confiada a mensagem a Garcia retrucaria, provavelmente: - "Leve-a você mesmo!". Hoje esse homem perambula errante pelas ruas em busca de trabalho, em estado quase de miséria. No entanto, ninguém se aventura a dar-lhe trabalho porque é uma personificação do descontentamento e do espírito da discórdia. Não aceitando qualquer conselho ou advertência, a única coisa capaz de nele produzir algum efeito seria um bom pontapé dado com a ponta de uma bota 44, sola grossa e bico largo.

Pautemos nossa conduta por aqueles homens, dirigente ou dirigido, que realmente se esforçam por realizar o seu trabalho. Aqueles cujos cabelos ficam mais cedo envelhecidos na incessante luta que estão desempenhando contra a indiferença e a ingratidão, justamente daqueles que, sem o seu espírito empreendedor, andariam famintos e sem lar. Estarei pintando o quadro com cores por demais escuras?

Não há excelência na nobreza de si mesmo; farrapos não servem de recomendação. Nem todos os ricos são gananciosos e tiranos, da mesma forma que nem todos os pobres são virtuosos. Todas as minhas simpatias pertencem ao homem que trabalha, fazendo o que deve ser feito, melhorando o que pode ser melhorado, ajudando sem exigir ajuda. É o homem que, ao lhe ser confiada uma carta para Garcia, toma a missiva e, sem a intenção de jogá-la na primeira sarjeta, entrega-a ao destinatário. Esse homem nunca ficará "encostado", nem pedirá que lhe façam favores.

A civilização busca ansiosamente, insistentemente, homens nessa condição. Tudo que tal homem pedir, se lhe há de conceder. Precisa-se dele em cada vila, em cada lugarejo, em cada escritório, em cada oficina, em cada loja, fábrica ou venda. O grito do mundo inteiro praticamente se resume nisso:

"PRECISA-SE - E PRECISA-SE COM URGÊNCIA - DE UM HOMEM CAPAZ DE LEVAR UMA MENSAGEM A GARCIA".

Elbert Hubbard – Fevereiro de 1899

Efeito Zeigarnik

quarta-feira, 17 de julho de 2013

O Efeito Zeigarnik é uma tendência do psiquismo humano para lembrar-se melhor e com mais frequência das tarefas inacabadas em detrimento daquelas que já foram concluídas.

Foi descrito pela psicóloga russa Bluma Zeigarnik na década de 20 do século passado, inspirado num episódio incomum. Bluma reparou que o atendente de um estabelecimento tinha uma facilidade enorme de se recordar daqueles pedidos que ainda não tinham sido atendidos. Os outros, já atendidos, ele esquecia logo em seguida.

Instigada com o fato, fez vários experimentos em que repassava aos sujeitos de pesquisa algumas tarefas. Em um dos grupos, ela interrompia a execução da tarefa abruptamente, enquanto o outro grupo a concluía. Depois de algumas semanas, ao entrevistar novamente os dois grupos, notou que o grupo que não havia concluído as tarefas podia detalhar minunciosamente os deveres exigidos, enquanto o grupo que concluiu as tarefas, não tinha a mesma riqueza de detalhes.

Pensamentos e sentimentos que retornam o tempo todo, tomam sua atenção por completo, atrapalham suas atividades corriqueira. Provavelmente são frutos do Efeito Zeigarnik.

São palavras por dizer, ações por tomar, pensamentos que não ganharam forma, planos que permanecem na berlinda, como formas inacabadas que exigem uma solução. Enquanto algum ato não os satisfizer, pelo menos parcialmente, eles permanecerão em estado de constante tensão.

Esta tendência está tão incrustada nas subjetividades que pouquíssimas pessoas se dão conta de que seus pensamentos e sentimentos cotidianos não passam de um desfilar de queixumes de coisas por resolver! Acomodam-se e fingem viver bem com isso.

Em contrapartida, outras pessoas conseguem identificar facilmente o Efeito Zeigarnik em ação, pois sentem seus efeitos. Aflição, impaciência, tristeza e afins são indicadores de sua ação exagerada. Não é tão difícil saber o que devemos fazer.

Mas então por que, mesmo assim, não fazemos? E embarcamos na repetição de padrões de comportamento que simplesmente não nos fazem felizes?

Talvez seja um problema de congruência. Ser congruente é reduzir o espaço que há entre pensamento, palavras e atos. Parece fácil? Pare e pense como foi seu dia. Quantas coisas pensamos e não fizemos, ou fizemos automaticamente, sem pensar? Quantas coisas falamos por falar, quando o melhor teria sido calar?

Entre o pensamento, o desejo e ação que os realiza, moram todos os fantasmas dos tabus, dos velhos hábitos, das pequenas certezas que nos impedem de agir em prol do que queremos e precisamos. São esses hábitos de pensamento, oriundos de experiências passadas recentes e remotas que nos afastam da força necessária à congruência, o único paliativo conhecido ao Efeito Zeigarnik.

Obviamente nunca resolveremos situações por completo, vai sempre sobrar um restinho de insatisfação, que não é ruim, pois nos impele a agir e realizar. O Efeito Zeigarnik é uma importante ferramenta de autoconhecimento, pois joga na nossa cara aquilo que precisamos e queremos, e ainda pergunta: "E aí, vai resolver ou não?".

Se você disser que não, nem se preocupe, ele sabe seu endereço e voltará para lhe perguntar outra vez!

Adaptado: Rômulo Justa